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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Arroz com galinha.

Não é risoto, risoto de gringo, arroz de forno ou frango com arroz. É galinha e arroz na mesma panela. Isto explicado, vamos ao sucedido. O Pedrinho era um amigo que volta e meia estávamos trabalhando juntos. Ele auxiliando-me e como frequentador da minha lancheria em Viamão-RS, sempre estávamos conversando sobre uma coisa que gostávamos de fazer: pescar. O sr Antônio, amigo e freguês da lancheria, sempre repetindo que se quiséssemos nos levaria em seu carro. Pois inventamos de tratar uma numas terras que margeavam o banhado que é o nascedouro do rio Gravataí. Tratava-se de um quilombo antigo, que era dirigido pelo pai do Pedrinho. Ele era o cacique e os moradores eram quase todos da mesma família com poucas exceções. Todos descendentes de antigos escravos da região de Viamão. Muito pobres, viviam de agricultura de pouca subsistência, de changas ( gauchês = tarefas, pequenos serviços), de alguma caça e de pesca no banhado.

Levei uma galinha de supermercado, dessas que vem com pés, cabeça e miúdos, um quilo de arroz e mais nada pois não conhecia o lugar e suas dificuldades e imaginava que pelo menos um mínimo de temperos haveria de ter.

Primeira decepção: não havia água no banhado! Com a falta de chuva, no mês de Janeiro, o banhado, sempre alagado, estava seco! Havia recuado uns três quilômetros. Não haveria pescaria! pois estávamos muito longe de outros pesqueiros que conhecíamos e perderíamos muito tempo para nos deslocarmos.

Resolvemos fazer o arroz com galinha ali na aldeia e surgiu a primeira dificuldade! O fogão campeiro estava sendo reformado e só estava pela metade. Teríamos que  fazer em uma fogueira no pátio! Quem já cozinhou campo à fora em bivaques ou acampamentos, sabe que não é uma tarefa fácil. Segunda dificuldade: a água barrenta era tirada de uma cacimba sem proteção alguma e com os animais dividindo-a com os humanos. Terceira dificuldade: a panela era uma daquelas que deveria estar há muito tempo reciclada em algum ferro-velho! Toda amassada e com cascão preto nas reintrâncias internas e só com uma alça. Ao perguntar se havia algum tempero na horta, me responderam que horta? A unica coisa que tinha eram limões-bergamota (tangerina).

Quase desisti de cozinhar já que me elegeram por unanimidade o cozinheiro do dia. Rapidamente comecei a tentar resolver os problemas de higiene. Resolvi que o limão ajudaria a matar micróbios e o fogo completaria o "serviço". Fechei os olhos e mãos-a-obra!

Água fervendo na chaleira, azeite quase queimando de tão quente na panela, pedaços da galinha lavados em suco de limão. Ao fritar a galinha, ao ponto de dourar, coloquei mais o caldo de um ou dois limões. Despejei o saco de um quilo de arroz e fiquei mexendo até quase passar do ponto. Água acrescentada com medida de olhos (olhômetro) e seja o que Deus quiser! 

Enquanto isso, a mãe do Pedrinho cozinhava um feijão que chamamos de feijão miúdo e que eu acredito ser o feijão-de-corda nordestino.

Como a armação de ferro tinha uma caída para o meio eu girava um quarto de circunferência de tempos em tempos, para que a cocção se desse parelha. Perguntaram-me por que fazia isso. Brincando respondi que era para a fervura ficar sempre para o lado Norte que era uma mandinga muito antiga na fronteira do Brasil com o Uruguai! Levaram a sério e até hoje fazem a "mandinga" para que os seus cozidos fiquem gostosos!

Seu Antônio achou que não estaria bom e colocou apenas duas colheres de cada comida, convidado que foi para ser o primeiro a servir-se! Ao dar a primeira garfada, voltou e serviu-se normalmente. Brincando perguntei o que houve. Foi sincero. - Pensei que tinha ficado uma bosta mas é o melhor arroz com galinha que já comi até hoje. Ao provar, concordei com ele.

Pois bem nunca mais consegui fazer igual, sequinho com o sabor da galinha sobressaindo sem ser enjoativo. Inigualável. Não foi a fome que o fez ficar bom como dizem alguns. Tenho um sentido gustativo aguçado e me permite saber quando erro na minha culinária assim como tenho certeza de que faço boas comidas também.

Se quiserem aí vai a receita:
1 Kg de arroz
1 galinha inteira com pés, couro, pescoço e miúdos
vários limões
água barrenta fervendo
sal
óleo de soja
fogo de chão fora de nível
panela encascurrada (gauchês=cheia de cascão de cozimentos antigos)
Ajuda de Deus!

2 comentários:

  1. Come quantas pessoas???
    É muito arroz.
    beijos!

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    Respostas
    1. Janice, obrigado pelo contato. Não contei quantos eram à mesa. Ops, à mesa não, pois não havia. Era uma roda em torno do terreiro. Nunca mais fiz tanto. Uso normalmente uma xícara para duas pessoas. Um abração!

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